Entrevista con Sara Figueiredo Costa, crítica literaria (Textos II)

Nesta segunda entrega da sección “textos” quero reproducir unha entrevista que o blogue Booktailors lle realizou á crítica literaria portuguesa Sara Figueiredo, a quen sigo con certa frecuencia e sempre con interese tanto nos seus traballos  de crítica literaria e de xornalismo cultural en plataformas como  LER, Time Out e Expresso como nos seus propios medios dixitais (Cadeirão Voltaire, sobre libros e edición -no que algunhas veces se asomou á nosa literatura- e Beco das Imagens, dedicado á banda deseñada e á ilustración). Nesta entrevista, achégase con moito xuízo e clarividencia a algúns asuntos de relevancia nestes eidos da crítica e que comparto nas máis das ocasións. Velaquí algúns fragmentos da entrevista:

Já alguma vez um autor lhe deixou de falar na sequência de uma crítica literária?

Que eu saiba, não. Já tive algumas trocas de e-mails, felizmente, sempre civilizadas. E, ao contrário do que as pessoas possam imaginar, uma discussão (repito a ideia, sempre civilizada) pode ser a melhor consequência de uma recensão publicada na imprensa. Afinal, queremos ou não queremos suscitar o debate e a reflexão?

Sobre que autor nunca faria uma recensão?

Respondendo com a retidão académica desejável, nunca faria uma recensão sobre um autor que tivesse escrito sobre temas que me são pouco familiares (física quântica, por exemplo). Mas não era isto que queriam, pois não? Então, vamos lá. Posso dizer, sem mentir, que não tenho embirrações muito grandes, e as que tenho não partiram de nenhuma questão pessoal, mas sim da obra escrita. Como tenho alguma margem para escolher os livros sobre os quais escrevo, abstenho-me de escrever sobre livros que sei, à partida, que não me interessam (arriscando-me a não descobrir alguma coisa interessante por causa desse pré-conceito, mas ainda assim).

O que é fundamental para se ser um bom crítico literário?

Isto podia ocupar muitas páginas… Para simplificar uma coisa que não é simples, saltando por cima dos diferentes modos da crítica (da academia ao jornalismo, há muitas nuances) e partindo do princípio de que a pergunta se refere à crítica jornalística, diria que um crítico tem de saber ler, e não estou a falar de literacia básica. Tem, igualmente, de ter lido muito, porque não se pode pensar e escrever sobre um livro sem a consciência do que está para trás (sob pena de se descrever como absolutamente inovador um tipo de discurso que Faulkner já construiu muito melhor, por exemplo). Alguns conhecimentos de teoria literária também ajudam (e não estou a dizer que é preciso ter um curso superior na área; há bons livros sobre o tema e qualquer pessoa pode lê-los). Nos tempos que correm, diria que é fundamental gostar do que se faz e não ter demasiadas expectativas financeiras quanto ao retorno.

A crítica ainda tem poder para destruir uma carreira ou uma obra?

Uma carreira, não creio. A «carreira» é o tipo de coisa que vive mais das aparições, da construção de uma imagem pessoal adaptada aos gostos do dia, com uma pitadinha de originalidade rebelde e bem projetada naquilo a que chamamos espaço público. E o mais comum é que as pessoas que apostam na «carreira», e não tanto na obra, não tenham a crítica em grande conta (o normal é falarem dela com o mesmo grau de consciência, informação e inteligência com que os utentes da Carris falam do Salazar e do atual Governo, qualquer que ele seja). Ou seja, a «carreira» não se perturba se um crítico se dá ao trabalho de ler um livro, pensar sobre ele, cruzar a sua leitura com uma série de outras referências, etc., etc. A obra é outra coisa, e não creio que a crítica, sobretudo hoje, uma época em que se entende a crítica como uma nota de exame e não tanto como um processo de reflexão e juízo balizado por várias variáveis, tenha grande influência na boa ou na má fortuna de uma obra. Mas parece que ajuda a vender livros, pelo que me dizem alguns livreiros.

Como vê a redução de espaço dedicado à cultura nos meios de comunicação social?

Daqui a nada já nem vejo, tal é o processo de redução em curso. Diz-se que as pessoas não querem ler textos grandes, e por isso reduz-se o número de caracteres até ao ridículo; diz-se que as pessoas não querem ler sobre cultura, e então corta-se nas secções… Mas se as pessoas compram jornais com suplementos culturais, querem ler o quê? Parece-me que a desculpa não é boa, e a consequência ainda é pior.